Entrevistando #5 - Meus Nervos


Estava eu, feliz e contente navegando na Internet, olhando o twitter, quando vejo o Will Leite falando sobre o Tumblr dele, vou lá, dou uma passeada, e vejo ele falando sobre um cara que fazia desenhos sobre medicina, clico no link esperando ver desenhos extremamente técnicos sobre o corpo humano, órgão, etc, mas acabo me deparando com o Meus Nervos, um médico que faz tirinhas sobre o cotidiano de sua profissão. 


LNB - Qual cartunista você admira o trabalho? Há algum no qual você baseou seus traços?
 
Solon Maia -  Admiro o trabalho de muitos, mas destaco Angeli, Quino e Bill Watterson. São minhas grandes referências. Quanto à “nova guarda”, eu não poderia deixar de citar: Will Leite, Marco Oliveira e Orlandeli. Acompanho o trabalho dos caras diariamente.
Não baseio meu traço em nenhum desenhista, mas costumo dizer que sofro influência de todos. Sou colecionador de quadrinhos há uns 15 anos e, desde então, venho pegando um detalhe aqui outro ali, mas sempre tentando manter um estilo próprio. Continuo me aperfeiçoando, mas ouso dizer que a base do meu traço já está bem definida.
 
O Doutor dos seu desenhos é baseado em você mesmo?
 
As minhas primeiras tirinhas eram nada mais que desabafos, sendo assim, naturalmente usei a minha figura... A aceitação foi tão boa, que me incentivaram e convenceram a montar um blog. Nesse ponto pensei em mudar o visutal do doutor, mas já era tarde demais; as pessoas já estavam acostumadas, eu já tinha muito material pronto, e estava gostando da idéia de ser um personagem. Sem mencionar que basear o personagem numa figura real, dá um tom mais realista à coisa toda. Resolvi manter essa linha. Eu sou o doutor que você vê nas tirinhas.
 
Os desenhos são bem complexos, bem próximos de um ser humano real, cheios de sombra e com pouquíssimos retoques do computador. Quanto tempo uma obra demora pra ficar pronta?
 
Meus plantões são principalmente noturnos. Depois da meia noite o movimento cai bastante, mas ainda sim tem atendimento. Pra não ficar indo e voltando pro repouso, prefiro ficar no consultório; fico lá desenhando... Raramente faço isso em casa. Gasto em média uma hora para cada personagem; depois de prontos, montar a tirinha no computador é o de menos; meia hora no máximo. Em média, uma tirinha demora umas 2 horas.
 
 
E isso é um dom nato ou uma habilidade desenvolvida através de cursos?
 
Desenhar é um dom. Cursos ajudam aprimorar técnicas, a lidar com materiais diversos, mas não te ensinam a desenhar. Isso tem que partir de você. Quem não tem esse dom pode até ser “treinado” para fazer certos desenhos, mas os resultados não terão o mesmo requinte de quem nasceu para a coisa. Comecei um curso de desenho quando tinha 13 anos. Fiz umas 2 ou 3 aulas e abandonei. Os professores tiravam muito minha liberdade; tinha que pegar no lápis do jeito deles, não podia rodar o papel, não podia usar borracha, etc. Comecei a notar que meus desenhos estavam piorando! Pouco tempo depois fiz um curso de CorelDraw, que durou cerca de três meses, e nunca fiz mais nada.
 
Você consegue equilibrar bem a vida de médico, a de cartunista e a pessoal (médicos são cheios de plantões, emergências, etc)?
 
Esse lance de que “médico trabalha demais” é relativo. Eu costumo dizer que médico trabalha o tanto que se dispõe a trabalhar. Cada um tem suas necessidades e prioridades; no meu caso, prefiro ganhar um pouco menos e ter uma boa qualidade de vida. Dou em média 4 plantões de 12h por semana. Desenho, navego na internet, faço academia, namoro e vou pra rua toda sexta, sábado e domingo. É uma vida relativamente tranquila.
 
 
O curso de medicina é extremamente concorrido. Na sua opinião, a que você atribui essa procura? Ao amor pela profissão ou ao status que a ela agrega?
 
O principal motivo pela concorrência de medicina, ao meu ver, é a segurança que a profissão te proporciona. Quando você entra na faculdade, você passa o curso todo tendo a mais absoluta certeza de que ganhará razoavelmente bem. Não falo de ficar rico, falo de ganhar bem, de poder comprar seu apartamento, ter um bom carro, fazer algumas viajens e até poupar um pouco. A medicina ainda é, talvez, o único curso que te dá essa certeza. Amo minha profissão e faço tudo com muito gosto, mas não sou hipócrita para dizer que essa é a única razão para a minha escolha. Se eu pudesse, teria vivido apenas de desenho, mas tive muito medo e preferi seguir um caminho mais tradicional. Acho que fiz a coisa certa. Quanto ao status de médico, vejo que hoje em dia não é grande coisa, nem sei se existe mais! Infelizmente as pessoas tem certa repulsa à nossa classe. Pagamos o preço pelo alarde da mídia, pelos problemas com SUS e planos de saúde, e pelos poucos maus profissionais espalhados por aih. 
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Qual a sua especialidade na medicina e por que você escolheu essa área?
 
Eu sou formado há quatro anos e ainda não me especializei. Tive uma vida um tanto conturbada desde então. ...Terminada a faculdade, me casei, tive uma filha, depois servi um ano na aeronáutica. A vida estava se acalmando, até que no final de 2008 descobri um tumor na base do crânio; quase fiquei louco achando que ia morrer, mas tudo terminou bem. No ano seguinte veio a separação, me mudei de estado, tive que começar tudo de novo... Aí fiquei na farra um ano e agora, em 2011, vou tentar a residência de ortopedia. São apenas três anos de especialização, as possibilidades são as mais variadas possíveis, e o mercado ainda é muito bom. ...Mas eu costumo dizer que tirando pediatria e ginecologia, eu faria qualquer especialidade.
 
As área nas quais um médico pode atuar são bem conhecidas, mas existe alguma para a qual poucos vão, há pouca procura, pouco interesse?

Há pouco interesse pela área do Programa de Saúde da Família e por áreas ligadas à pesquisa, devido à problemas com condições de trabalho, reconhecimento, baixa remuneração e incentivos. Geralmente quem escolhe essas áreas, ou é por um amor incondicional (o que é raro, pois sem comida na mesa, não há amor que dure) ou em carater temporário, infelizmente. Faltam medidas diversas para melhorar essa realidade, principalmente por parte do governo, pra variar.
 
Qual a área mais concorrida?

Até onde sei, as áreas mais concorridas são as de Dermatologia, Radiologia e Cirurgia Plástica. São as que proporcionam maior qualidade de vida... Por serem mais bem remuneradas, o médico pode trabalhar menos, fazer as coisas com mais calma, se estressar menos. Ele acaba agradando mais os pacientes, diminuindo a chance de erros e processos, enfim, pode trabalhar com excelência, pode ter paz. Isso é o que todo médico quer.
 
Eu sempre quis fazer essa próxima pergunta pra um médico.
 
Se um amigo ou conhecido chega na sua hora de folga e diz que está com uns sintomas estranhos, você:

a- diz para ele ir falar com você no consultório ou hospital no horário de trabalho?
 
Se é AMIGO, eu atendo à qualquer hora, com o maior prazer. Se é conhecido, peço para marcar consulta.
 
b- fala para o cara comprar vitaminas e falar com você na segunda?
 
Não prescrevo placebo pra ninguém... Vitaminas são para questões muito particulares; a população em geral não se beneficia em nada com elas. É, talvez, o maior mito na medicina. Geralmente prescrevo a coisa certa ou, na dúvida, não prescrevo nada.
 
 
c- receita o remédio certo, mas depois manda a conta pra ele?
 
Existe uma cultura das tais consultinhas de corredor, de elevador, de bar, de churrasco... As pessoas não entendem que isso é constrangedor e inapropriado. Definitivamente, é muito desagradável. ...Evito ao máximo, mas se faço, jamais falo em dinheiro.
 
d- outra opção:

 Acho que já é o bastante!  


Quer saber mais sobre Meus Nervos e o Doutor?


2 comentários:

  1. Anônimo disse...:

    Parabéns Solon, a próxima vai ser no Jô Soares.

  1. Muito Bom... Brasília te espera para a Residência... Abraço

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